Somos
diferentes em nossas características físicas, psicológicas e culturais. E se
formos pensar na história de vida de cada um, mais e mais diferenças aparecem.
Porém quando falamos em deficiências, essas diferenças vão além e são
carregadas de significados, interpretações e sentimentos.
Na
minha época de escola tive muito pouco contato com colegas deficientes físicos,
mas os poucos que convivi, em ambiente escolar, eram muito aplicados e
inteligentes, uma vez que a deficiência sendo apenas física não comprometia a
parte cognitiva. O problema era a acessibilidade. Os prédios onde as escolas
funcionavam não foram pensados para deficientes físicos e consequentemente eles
não tinham acesso a alguns lugares da escola. No prédio da escola onde cursei
do 5º ao 9º anos, a biblioteca ficava em parte inferior com várias escadas para
acesso, minha colega cadeirante nunca pôde ir até lá. Também não havia
carteiras adaptadas e aluno cadeirante ficava em sua própria cadeira de rodas
ou se acomodava como podia em carteiras comuns. Das atividades da aula de
Educação Física, nenhuma era pensada e preparada para esses alunos, sendo eles
dispensados da disciplina.
Não
tive colegas de sala com síndrome de down, autistas ou outros problemas
cognitivos mais graves, pois eles não frequentavam escola normal, na época a lei não promovia a inclusão na rede
regular, determinando a escola especial como destino certo para essas crianças.
Foi o que aconteceu com um primo, que tendo deficiência mental não foi aceito
na mesma escola que eu estudava, porque não sabiam o que fazer com ele e
alegaram que o comportamento dele atrapalhava o desenvolvimento da turma, e como na região que morávamos não tinha
escola especial, ele não teve oportunidade de desenvolver as habilidades e
competências as quais seria capaz se trabalhado de forma estratégica, como
acontece hoje. Mesmo
assim, fora da escola, ele aprendeu os números e a fazer pequenas operações
matemáticas, insistindo com pessoas da família para ajuda-lo, aprendeu também
as letras do alfabeto e a escrever o próprio nome, mas não chegou a conseguir
ler, e tudo que ele aprendeu foi praticamente sozinho. Na maioria das vezes a
própria família se omite nessa parte, achando que tudo que o deficiente precisa
é proteção e cuidados, e muitas vezes a proteção é tamanha que torna o
deficiente mais dependente do que precisaria ser.
Fiz
licenciatura e quando entrei em exercício pude perceber que em cada sala de
aula encontraremos alunos que precisam de uma estratégia diferenciada que os
ajude no processo de ensino e aprendizagem, e essa missão não é fácil. Hoje não
mais em sala de aula, continuo trabalhando em ambiente escolar, no câmpus que
atuo faço parte do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades
Educacionais Específicas (NAPNE). É um eterno aprendizado, cada caso é um caso,
precisa dedicação, estudo, pesquisa, sensibilidade...
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