quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A pessoa com deficiência na minha história de vida

Somos diferentes em nossas características físicas, psicológicas e culturais. E se formos pensar na história de vida de cada um, mais e mais diferenças aparecem. Porém quando falamos em deficiências, essas diferenças vão além e são carregadas de significados, interpretações e sentimentos.
Na minha época de escola tive muito pouco contato com colegas deficientes físicos, mas os poucos que convivi, em ambiente escolar, eram muito aplicados e inteligentes, uma vez que a deficiência sendo apenas física não comprometia a parte cognitiva. O problema era a acessibilidade. Os prédios onde as escolas funcionavam não foram pensados para deficientes físicos e consequentemente eles não tinham acesso a alguns lugares da escola. No prédio da escola onde cursei do 5º ao 9º anos, a biblioteca ficava em parte inferior com várias escadas para acesso, minha colega cadeirante nunca pôde ir até lá. Também não havia carteiras adaptadas e aluno cadeirante ficava em sua própria cadeira de rodas ou se acomodava como podia em carteiras comuns. Das atividades da aula de Educação Física, nenhuma era pensada e preparada para esses alunos, sendo eles dispensados da disciplina.
Não tive colegas de sala com síndrome de down, autistas ou outros problemas cognitivos mais graves, pois eles não frequentavam escola normal, na época a lei não promovia a inclusão na rede regular, determinando a escola especial como destino certo para essas crianças. Foi o que aconteceu com um primo, que tendo deficiência mental não foi aceito na mesma escola que eu estudava, porque não sabiam o que fazer com ele e alegaram que o comportamento dele atrapalhava o desenvolvimento da turma, e como na região que morávamos não tinha escola especial, ele não teve oportunidade de desenvolver as habilidades e competências as quais seria capaz se trabalhado de forma estratégica, como acontece hoje. Mesmo assim, fora da escola, ele aprendeu os números e a fazer pequenas operações matemáticas, insistindo com pessoas da família para ajuda-lo, aprendeu também as letras do alfabeto e a escrever o próprio nome, mas não chegou a conseguir ler, e tudo que ele aprendeu foi praticamente sozinho. Na maioria das vezes a própria família se omite nessa parte, achando que tudo que o deficiente precisa é proteção e cuidados, e muitas vezes a proteção é tamanha que torna o deficiente mais dependente do que precisaria ser.
Fiz licenciatura e quando entrei em exercício pude perceber que em cada sala de aula encontraremos alunos que precisam de uma estratégia diferenciada que os ajude no processo de ensino e aprendizagem, e essa missão não é fácil. Hoje não mais em sala de aula, continuo trabalhando em ambiente escolar, no câmpus que atuo faço parte do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE). É um eterno aprendizado, cada caso é um caso, precisa dedicação, estudo, pesquisa, sensibilidade...  


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